Já consagrado no calendário cultural da Cidade de São Paulo, o Festival de Cinema Judaico retorna com toda a sua energia e entusiasmo para a sua 26ª edição, em 2023. De 13 a 20 de agosto, direto da tela do Teatro Arthur Rubinstein do clube Hebraica, o público terá a oportunidade de conferir obras relacionadas ao judaísmo e Israel por diferentes ângulos em 16 sessões que incluem 17 filmes e em uma delas serão exibidos um curta e um documentário.
“Tivemos uma ótima safra de filmes neste ano para fazer as escolhas da programação. Chegamos a uma pluralidade de ideias, com diferentes interpretações de temas importantes, que despertam o espírito crítico das pessoas e nos levam a fazer questionamentos”, destaca o CEO da Hebraica e diretor-geral do festival, Gaby Milevsky.
Para a curadora Daniela Wasserstein, “a produção atual traz uma maior variedade de gêneros e estilos. Temos comédias românticas e reflexões da sociedade contemporânea em geral, como o antissemitismo crescente, racismo, tolerância, violência contra mulheres e empoderamento feminino”.
Ao longo de sua trajetória, o Festival de Cinema Judaico já exibiu mais de mil filmes, tornando-se uma referência mundial quando o assunto é produção cinematográfica judaica. Neste ano, o público terá a oportunidade de apreciar filmes vindos de países como França, Alemanha, EUA, Israel, Argentina, Brasil, Ucrânia e Holanda.
Gaby Milevsky faz ainda uma menção de agradecimento ao Banco Daycoval “por patrocinar e sempre nos acompanhar nesta importante realização”.
A seguir, os filmes da abertura e encerramento do Festival e alguns destaques desta edição
Após ampla reforma de revitalização, o Teatro Arthur Rubinstein da Hebraica (520 lugares) irá celebrar a noite de abertura do festival, dia 13 de agosto (domingo, às 18h30), com o filme “O Homem no Porão” – também exibido na abertura do Festival de Cinema Judaico de Toronto, realizado recentemente –, que apresenta elenco estrelado vindo da França, como François Cluzet, de “Intocáveis”, e Bérénice Bejo, indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante em 2012 por sua atuação em “O Artista”, que ganhou cinco categorias naquele ano, incluindo melhor filme e melhor diretor. “O Homem no Porão”, dirigido por Philippe Le Guay, trata do revisionismo histórico e do Holocausto de maneira tensa e questionadora, quando um casal vende o porão de seu imóvel e passa a lidar com o novo morador, que se revela um antissemita negacionista.
No último dia do festival, praticamente uma “avant-première”, e para fechar com chave de ouro, a exibição do aguardado filme “Golda – A Mulher de uma Nação”, que mostra os acontecimentos da Guerra do Iom Kipur, em 1973, sob o ponto de vista da ex-primeira-ministra israelense Golda Meir. O filme apresenta no papel da protagonista a atriz Helen Mirren, que tem diversos prêmios na carreira, como o Oscar de 2007, quando interpretou a rainha Elizabeth II em “A Rainha”. Para se ter uma ideia de como o filme é questionador, a própria Mirren causou polêmica ao fazer comparações entre Golda Meir e o atual primeiro-ministro Benjamin Netanyahu durante recente visita a Israel para promover a exibição da obra na abertura do Festival de Jerusalém.
As Mulheres no Festival
Já é tradição no Festival de Cinema Judaico da Hebraica a programação incluir bate-papos com convidados envolvidos nas produções exibidas. Neste ano, serão três momentos com a presença de mulheres brasileiras que vão discutir as obras e a participação de mulheres na indústria cinematográfica.
A cineasta Elza Cataldo estará no clube para falar sobre “As Órfãs da Rainha”, ficção ambientada no período em que a Inquisição chega ao Brasil. O filme mostra três irmãs que perderam os pais e, criadas pela rainha de Portugal, são enviadas contra sua vontade para povoar a colônia. As locações aconteceram em uma cidade cenográfica construída dentro de uma fazenda na Zona da Mata mineira, onde Elza nasceu. Um detalhe: a história se passa na Bahia do século 16. A primorosa produção levou dez anos para ficar pronta, incluindo a leitura de mais de 300 livros, viagens para Portugal e Espanha, e mais de dez revisões do roteiro. O empenho já rendeu participações e prêmios, por exemplo, no Toronto International Women Festival, Los Angeles Independent Women Film Awards e Washington Jewish Film Festival.
Outro debate previsto para acontecer na Hebraica será após a sessão conjunta do curta “As Manhãs de Majer”, da diretora Renata Jesion, e do filme “Bela”, que tem a direção de Paula Zimerman Targownik, brasileira radicada na Alemanha, junto com o marido, Daniel Targownik. “As Manhãs de Majer” é baseado nos relatos do pai de Renata, sobrevivente de quatro campos de concentração, e integra um projeto de autorreflexão pessoal, junto com a peça teatral “121.023 J”, que teve longa temporada em várias cidades, e não se restringe à questão judaica, questionando como são tratadas as pessoas “diferentes”.
Já o longa “Bela” é um documentário sobre uma história pouco conhecida de sobreviventes do Holocausto que fugiram da Alemanha para a China e mostra a experiência dos diretores após uma visita ao Gueto de Xangai, onde os judeus que chegavam eram confinados com chineses pobres que já vivam no local.
Paula Zimerman Targownik também integrou a equipe de roteiristas da comédia romântica franco-israelense “Paris Boutique”, dirigida por Marco Carmel, que faz parte da programação do festival, sobre como uma advogada judia que chega da França e sua guia em Israel descobrem uma relação secreta entre uma ultraortodoxa e um cristão. A roteirista também estará presente para um bate-papo após a apresentação do filme.
Mais destaques deste Festival
Outra obra que deve despertar o interesse do público é o documentário “Nisman, a Vítima 86”, de Pablo Racioppi, com detalhes de um caso que abala profundamente a comunidade judaica, a sociedade argentina e a vida política do país vizinho ao Brasil. O filme aborda a morte do procurador Alberto Nisman, encontrado morto às vésperas de apresentar os resultados das investigações sobre o envolvimento do governo argentino com iranianos do atentado terrorista contra a AMIA (Sociedade Mutual Israelita Argentina).
O filme “SHTTL”, por sua vez, é totalmente falado em iídiche e revela a vida dos habitantes de uma aldeia rural, um tradicional “shtetl” na fronteira da Ucrânia com a Polônia, pouco antes da invasão nazista na Segunda Guerra Mundial, na chamada Operação Barbarossa. A produção franco-ucraniana foi concluída em 2021, antes da atual guerra com a Rússia, com a proposta de transformar o set em museu, mas toda estrutura foi destruída no conflito.
Escolhido como melhor filme pelo público do Miami Jewish Film Festival em 2022, a comédia “iMordecai” aborda a relação de um sobrevivente do Holocausto com seu filho depois que ganha dele de presente um iPhone e é obrigado a se deparar com as mudanças do mundo moderno.
A pedido do público, dois filmes de sucesso na Mostra de Cinema Israelense “Hebraica SP 70 – 75 Israel”, realizada em abril, vão ser exibidos novamente no clube. “Exodus 91” é baseado em fatos da Operação Salomão, que conseguiu levar mais de 15 mil judeus da Etiópia para Israel. Já “Matchmaking” é uma adaptação divertida do clássico “Romeu e Julieta” envolvendo israelenses ortodoxos que tiveram o casamento arranjado.
Confira a programação*:
13/8 domingo
18h30 – Coquetel de abertura
19h30 – O Homem no Porão (114 min)
14/8 segunda-feira
20h30 – Exodus 91 (90 min)
15/8 terça-feira
18h30 – Nisman, a Vítima 86 (80 min)
20h30 – Spinoza (55 min), com debate após a apresentação
16/8 quarta-feira
14h30 – Matchmaking (96 min)
17h00 – Insurgência – A Jornada de Menachen Begin (54 min), com debate após a apresentação
20h30 – As Órfãs da Rainha (120 min) – após a exibição, haverá um bate-papo com a diretora
17/8 quinta-feira
18h30 – Shttl (114 min)
20h30 – Nossa História (103 min)
18/8 sexta-feira
18h30 – Três Minutos de Duração (69 min)
20h30 – Haute Couture (101 min)
19/8 sábado
16h00 – Paris Boutique (82 min) – após a exibição, haverá bate-papo com a roteirista
18h30 – iMordecai (102 min)
20h30 – Vishniac (90 min)
20/8 domingo
16h00 – As Manhãs de Majer (17 min) / Bela (65 min) – após a exibição, haverá bate-papo com as diretoras
18h30 – Golda: A Mulher de uma Nação
*Programação sujeita a alteração
SERVIÇO
26º Festival de Cinema Judaico
Data: 13 a 20 de agosto de 2023
Local: Teatro Arthur Rubinstein – Clube Hebraica – Rua Hungria, 1000 – Pinheiros
Ingressos: à venda no site www.ticketfacil.com.br
Valores para sessões avulsas: R$ 36 (inteira) e R$ 18 (meia e sócios do clube)
Passaporte válido para todas as sessões: R$ 140 (sócios) e R$ 200 (não sócio)
Informações: Central de Atendimento (11) 3818-8888/8889
Encontre no site do clube a programação completa, com a grade e sinopse dos filmes, dias e horários: www.ahebraica.org.br