17% da população Europa está enquadrada na “geração sanduíche”, formada por pessoas com mais de 50 anos que cuidam dos pais e dos netos. No Brasil, estima-se que esse grupo seja formado por 34,1% da população
17% da população Europa está enquadrada na “geração sanduíche”, pessoas com mais de 50 anos que cuida dos pais e dos netos. No Brasil estima-se que esse grupo seja formado por 34,1% da população. “Estamos falando de uma geração que vive sob pressão de um lado para assegurar o trabalho e, por outro, para prover os cuidados tanto para a geração anterior como para as posteriores”, explica Alexandre Kalache médico e gerontólogo, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR).
“Observamos que os programas de austeridade, na Europa, têm conduzido cortes na prestação de cuidados tanto para os idosos, como para as crianças. Isso faz com que os esses jovens avós, sobretudo as mulheres, atinjam níveis altíssimos de estresse. Temos certeza de que esse fenômeno se reproduz em escala maior em países como o Brasil, por exemplo”, revela Karen Glaser, do King’s College London.
De acordo com a gerontóloga que palestrará no XII Fórum da Longevidade Bradesco Seguros, no dia 18 de outubro, em São Paulo, é urgente que se comece a considerar as implicações que isso vai gerar em médio prazo, em diferentes aspectos, e que se comece a desenvolver propostas de políticas laborais e de seguridade social para esse grupo. “Essa é uma questão de saúde pública e com graves consequências na economia”, alerta.
Este conflito entre o papel das avós na prestação de cuidados dos pais, dos netos e a necessidade de se manter no mercado de trabalho, seja para proteger os seus próprios rendimentos, como para aumentá-los, aponta para graves implicações. “Constatamos que, em países onde as estruturas formais de serviços sociais são limitadas, essas avós estão assumindo o apoio financeiro, emocional e os cuidados práticos aos netos, assim como fizeram com os filhos”.
De acordo com Glaser, é um nítido cenário de pré-colapso. Mais de 40% dos avós cuidam dos netos. A Inglaterra e o País de Gales, tal como os E.U.A., têm registado um aumento na prevalência de agregados familiares sem continuidade geracional – famílias constituídas por avós e netos, sem a presença dos pais desses. Estes agregados familiares são mais propensos a viver situações de desfavorecimento e de elevada pobreza. “Estamos falando de uma geração que acumula papéis divergentes na sociedade, onde são obrigados a gerar mais recursos para dar conta do presente e ainda planejar o autofinanciamento na velhice, sobretudo, porque os sistemas previdenciários públicos estão em declínio”, afirma.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que mais de 17 milhões de famílias no Brasil têm um idoso como provedor. Especialistas, entretanto, avaliam que o número deve ser bem maior, já que muitos estão na informalidade. Alexandre Kalache, avalia que o sistema de proteção social brasileiro tem algumas contradições. Se por um lado, o governo criou uma Previdência Social universal que garante renda mínima para todos os trabalhadores que contribuíram ou não para o INSS, o valor do benefício é insuficiente para bancar as despesas, que só aumentam com a vida longeva. Conforme ele, o custo de vida no país é muito alto e a maioria da população é penalizada porque tem uma renda baixa.
A previsão é de que o envelhecimento da população brasileira siga a passos largos até 2050. De acordo com as projeções, em 2050, o Brasil vai estar em um estágio bastante avançado nesse processo de envelhecimento populacional. Dos 259 milhões de habitantes, 49 milhões de pessoas estarão com 65 anos ou mais, e 46 milhões de crianças com idade entre zero e 14 anos. Já a população de 80 anos ou mais deve subir de 2 milhões para 13,7 milhões.