O envelhecimento acelerado da população brasileira e a busca por moradias mais seguras, confortáveis e integradas vêm impulsionando o mercado de sênior living no País. Embora ainda pouco conhecido — apenas 7% dos brasileiros compreendem plenamente o conceito, segundo pesquisa realizada em 2023 —, o setor desperta interesse crescente, especialmente entre públicos de maior poder aquisitivo. Esse movimento motivou não só a realização de um estudo dedicado ao tema, mas também a criação de eventos específicos para quem já atua ou deseja entrar nesse mercado.
No centro dessa agenda está o Senior Living Meeting, fórum de debates organizado pela Caio Calfat Real Estate Consulting e pela Senior Lab, que reunirá investidores, incorporadores, arquitetos, operadores e prestadores de serviços para discutir o futuro e as oportunidades desse segmento em duas edições. No dia 3 de setembro, o encontro será realizado dentro da Geronto Fair, em Gramado (RS), e no dia 28 de outubro, é parte da programação da Expo Longevidade, em São Paulo (SP). “Cada decisão, do projeto físico ao modelo de operação, impacta diretamente no sucesso do empreendimento, o que nos motivou a reunir diferentes perfis profissionais para oferecer um panorama completo e interligado”, afirma Martin Henkel, CEO da Senior Lab.
A grade de palestras foi cuidadosamente construída para entregar uma visão 360° do negócio, reunindo especialistas que abordarão desde estudos de viabilidade e inteligência de mercado até arquitetura, design de interiores, operação hoteleira, cuidados médicos, gestão assistencial e marketing. O conteúdo também contempla temas estratégicos como financiamento, legislação, treinamento de equipes e construção de marca.
Caio Calfat e Martin Henkel estão entre os palestrantes confirmados, assim como Flávia Ranieri, arquiteta e criadora de uma linha especial e mobiliário funcional para o público 60+; Daniel Giacchieri e Luciana Zuffo, sócios-fundadores do Grupo São Pietro e administrador da bandeira São Pietro Sênior, primeira dedicada à operação de Senior Living no Brasil; Norton Mello, engenheiro, CEO da Bioeng Projetos e autor do primeiro livro que trata das especificações técnicas para o senior living publicado no Brasil; Jéssica Gomes, enfermeira especializada em cuidados com idosos; e Virgínio Olsen, médico e chefe do serviço de Geriatria Santa Casa de Porto Alegre. Tanto em Gramado quanto em São Paulo, o fórum será encerrado em uma mesa-redonda com a participação de todos os palestrantes e interação com a plateia.
Derrubando preconceitos
Mais que apresentar soluções e cases, o Senior Living Meeting busca também mudar percepções, já que o conceito difere de modelos tradicionais como as ILPIs (Instituições de Longa Permanência para Idosos) ao oferecer mais liberdade, áreas de convivência e privacidade, aliadas a serviços assistenciais e de hotelaria. “O asilo é um lugar para morrer; o senior living é um lugar para viver”, resume Caio Calfat, CEO da Caio Calfal Real Estate Consulting e um dos maiores especialistas do mercado turístico e imobiliário do Brasil.
Caio Calfat acrescenta que é preciso vencer a resistência de famílias e até de profissionais de saúde para mostrar que a qualidade de vida e a independência que esses empreendimentos oferecem é fundamental para ampliar o mercado. “É urgente desmistificar a ideia de que o conceito se resume a ‘casas de repouso’ e apresentar ao mercado o real propósito desses empreendimentos: que têm arquitetura acessível, atividades, serviços de saúde e estímulo constante à convivência social e independência dos moradores”, diz.
Ele lembra, ainda, da importância de direcionar a comunicação tanto aos potenciais moradores como também à chamada “geração sanduíche”, ou seja, os filhos que dividem seu tempo e recursos entre a carreira, os próprios filhos e os cuidados necessários para lidar com o envelhecimento dos pais. Dados do Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que quase 6 milhões de idosos residem sozinhos no país, o maior porcentual entre todas as faixas etárias, o que traz preocupações em relação à manutenção da saúde e qualidade de vida.
Após o sucesso da primeira edição do fórum, que reuniu 150 participantes na Serra Gaúcha, em 2018, os organizadores já vislumbram levar o evento para outros estados, acompanhando o avanço do segmento. “Estamos atentos às oportunidades para expandir o debate e contribuir para o amadurecimento desse setor no Brasil”, conclui Henkel.
Panorama nacional das residências sênior
A pesquisa realizada em 2023 pela Brain Inteligência Estratégica em parceria com a Caio Calfat Real Estate Consulting mostra que o potencial de negócio é inversamente proporcional ao conhecimento da população sobre o sênior living, com mais de um terço (37%) dos entrevistados afirmando ter interesse em viver ou investir em empreendimentos desse perfil. O declínio da saúde (50%) e a dependência de cuidadores (26%) estão entre as principais preocupações com o avanço da idade.
Os dados revelam um público concentrado nas faixas de maior poder aquisitivo, disposto a investir entre R$ 4,7 mil e R$ 12,3 mil mensais para viver em residenciais planejados. Apesar de 55% dos entrevistados afirmarem que preferem adaptar a própria residência, 33% consideram mudar-se para outro imóvel e 12% cogitam morar em uma instituição especializada, com foco na longevidade, segurança, acessibilidade, sociabilidade e em serviços integrados para manutenção da autonomia.
Consolidado em países como Estados Unidos, Japão e Austrália, o senior living vem ganhando tração no Brasil. Nas quatro capitais analisadas pelo estudo — São Paulo, Porto Alegre, Salvador e Fortaleza — foi constatada a existência de pouco mais de 2,3 mil leitos formais, frente a um universo de 42 mil instituições de longa permanência cadastradas, das quais apenas 15 mil são regularizadas.