Os encontros e as intersecções entre cinema e poesia marcaram a sessão de abertura da 14ª Flip. Celebrando as duas linguagens, o poeta Armando Freitas Filho e o cineasta Walter Carvalho dividiram com o público a emoção de trabalhar junto – Carvalho realizou o documentário Manter a linha da cordilheira sem o desmaio da planície (2016), em que filmou Armando por quase uma década, obra exibida na sequência da conversa.
Ao longo da sessão, cada um lembrou seu contato particular com a vida e obra da autora homenageada Ana Cristina Cesar (de quem Armando foi amigo especialmente próximo) e da paixão compartilhada por Jean-Luc Godard. “Godard, para mim, é poesia. É o cineasta que mais tem esse sumo, essa vontade, esse impulso. Ele tem principalmente a surpresa da poesia”, afirmou o poeta.
Carvalho, por sua vez, mencionou os motivos que o levaram a realizar o filme sobre Armando: “A minha leitura essencial é a poesia, que leio quase que diariamente. Antes do filme eu tinha muita curiosidade de saber: como vive um poeta? Vocês pegam ônibus? Vão ao supermercado? […] Como nasce um poema? Como é que duas ou três palavras se combinam e me põem para chorar?”.
Antes da mesa, o diretor geral da programação principal da Flip Mauro Munhoz mencionou a importância da escuta em tempos de ânimos acirrados no mundo. “Toda cidade tem uma voz. Há mais de vinte anos, a Casa Azul ajuda coletivamente a criar uma espécie de aparelho auditivo para escutar as vozes da cidade.” O curador Paulo Werneck citou a crise que assola o mercado editorial e jornalístico, mas logo comentou que as palavras crise e crítica têm a mesma raiz, ressaltando a importância da segunda para os enfrentamentos e travessias da primeira. A Tenda dos Autores estava pronta para mais uma Flip inundada de poesia, carregada de cinema e permeada por tantas outras formas de linguagem e do dizer.
Fonte: Flip