Quando a temperatura cai, é comum que bebidas quentes e sobremesas mais encorpadas dominem a preferência dos consumidores. Mas ao contrário do que muitos pensam, o sorvete também tem seu lugar garantido nos dias frios. Segundo especialistas e dados do setor, o consumo da sobremesa pode proporcionar novas experiências sensoriais e até contribuir para o bem-estar emocional.
Apesar da crença comum de que “o sorvete faz mal no frio”, a afirmação não faz sentido na prática, e trata-se somente de um preconceito antigo – “Criou-se uma ideia de que o sorvete poderia piorar resfriados ou dores de garganta, mas isso não acontece na prática. Temos diversos exemplos de que o consumo de sorvete e outros produtos gelados pode até aliviar os sintomas”, explica Mirko Stortini, químico e mestre gelatiere.
O italiano reforça ainda que essa ideia é decorrente de um entendimento antigo sobre produtos derivados de leite. O especialista é fundador da Gelato Academy, primeira escola italiana de gelatos do Brasil, e afirma que há muitos países com clima mais ameno que têm o sorvete como principal sobremesa.
“Se analisarmos os cinco países que mais consomem gelatos no mundo, veremos que muitos deles possuem temperaturas mais frias em relação ao Brasil, como Itália, Alemanha e Japão. Nesses países, mesmo no verão, as temperaturas são mais agradáveis e ainda assim a sobremesa é consumida”, completa.
Na Suíça, por exemplo, o consumo per capita chega a 14,4 litros por ano, enquanto no Brasil esse número é de apenas 4,7 litros anuais — com grande concentração nos meses de verão. Mas se o sorvete pode trazer benefícios mesmo no frio, por que essa queda de consumo nos meses de outono e inverno?
Para Carlos Ferreira, proprietário da Gelateria Damazônia, o paradigma de evitar tomar sorvetes no inverno, está sendo gradativamente quebrado. “Graças a qualidade dos gelatos e sorvetes artesanais, que utilizam em suas formulações ingredientes de alto padrão, como frutas, leite e creme de leite frescos”, aponta.
Do ponto de vista do mercado, a baixa temporada impulsiona a criatividade dos empreendedores. No caso da Gelateria Damazônia, Carlos aproveitou a ocasião para lançar sabores que mesclam elementos quentes e frios, com o ‘Affogato’, uma combinação de café expresso e gelato, e o ‘Megataus Casadinho’, que mistura bolo quente, calda de chocolate, frutas e o sorvete.
“O inverno é uma chance de inovar. Os clientes se mostram mais abertos a experimentar combinações ousadas e sabores diferentes. O clima mais frio também faz com que o sorvete derreta de forma mais lenta, o que permite que o paladar explore melhor estes sabores. É um momento de degustação mais refinado”, conta.
Para muitos consumidores, o contraste entre o quente e o gelado virou um verdadeiro ritual. A publicitária Andressa Fontes, de 35 anos, compartilha sua preferência: “No inverno, gosto de misturar sorvete com caldas quentes ou bolos caseiros. O contraste é delicioso e traz aconchego”, diz.
Já o estudante de gastronomia Henrique Souza, de 27 anos, opta por combinações com bebidas: “O sorvete com café forte é imbatível. A mistura é sofisticada e ao mesmo tempo simples”. Independente da preferência, é notável que o consumo da sobremesa cresceu mesmo em épocas mais frias.