Onze vidas para serem vividas

Um dos temas que a gente sempre discute dentro do universo da longevidade é a possibilidade de alguém viver mais de uma vida. Não no sentido literal, obviamente, mas no sentido da própria reinvenção.
Essa questão veio originalmente à tona quando o mundo começou a tirar o emprego dos maduros, seguido de um brutal achatamento na aposentadoria que os impede de levar uma vida digna.
Da necessidade de se repensar profissionalmente à possibilidade de repensar toda a vida, o pulo é quase automático. Principalmente se você é parte do grupo dos perennials, gente com corpo maduro e mente jovem que sabe que seu legado é uma obra que seguirá em construção permanente até o último suspiro.
Muita gente está se reinventando, descobrindo talentos adormecidos, revivendo sonhos, recuperando objetivos que a vida ocultou, vencendo preconceitos (e autopreconceitos que são ainda mais danosos), recuperando a autoestima e enxergando valores em si próprios que sempre estiveram lá mas nunca foram percebidos.
Aquela vida linear do “estudar – arrumar emprego estável – casar uma vez só – ter filhos – se aposentar – morrer” não existe mais há um baita tempo. De acordo com a neurocientista Anne-Laure Le Cunff, recebemos várias vidas dentro do mesmo corpo antes de morrermos. Segundo ela, demora cerca de sete anos para uma pessoa dominar algo. Se você viver até os 88 anos, e considerando que sua infância termina lá pelos 11, depois disso terá 11 oportunidades de ser bom em alguma coisa.
A conta da jovem cientista é meio forçada, mas, o conceito é válido. É preciso parar de se apegar à ideia de viver uma vida sem risco e sem mudanças. Deixe-se morrer para poder renascer como uma pessoa diferente. Se algo der errado, em vez de tentar voltar ao passado para consertá-lo, aproveite a oportunidade de encerrar um ciclo e começar outro. Afinal, você tem 11 deles à disposição.
Olhando em retrospecto, minha vida é uma comprovação da tese. Nasci pobre, enriqueci, perdi tudo (inclusive a esperança) e estou me reerguendo. Fui engenheiro, depois economista, depois administrador mas trabalhei mesmo como consultor em estratégia corporativa. Já fui dono ou sócio de dez empresas, pelo menos. Algumas deram certo, outras se afundaram fragorosamente. Tive sócios legais e outros que foram um desastre absoluto. Renasci quando fui trabalhar em Moçambique, no meio de uma guerra civil horrorosa, eventualmente com metralhadoras apontadas para o meu rosto. E renasci de novo quando fui fazer mestrado em Boston, o epicentro da intelectualidade e da burguesia sofisticada americana. A imersão em duas realidades opostas, em pouco mais de cinco anos, faz qualquer um se desbaratinar com a vida e o ser humano.
Casei, descasei, juntei, separei, enrolei, decepcionei, me decepcionei…. Nesse campo teve de tudo e certamente ainda terá mais. Quase sempre namorei com mulheres de religiões, personalidades e estilos de vida muito diferentes dos meus. Decepções amorosas são oportunidades ideais para gente encerrar uma vida e começar outra. Por outro lado, muitos amigos próximos são superconservadores. Esqueceram-se de se reinventar e estão em conflito com o mundo.
Se reinventar constantemente te força a aprender. Aprender te leva a crescer. E ao crescer, você não morre por dentro. Conte quantas vidas você ainda tem e faça um favor a si mesmo: não morra sem vivê-las.

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Fabio Nogueira
Fabio Nogueirahttp://www.observatoriodalongevidade.com.br
Fábio Nogueira é CEO do Instituto Observatório da Longevidade, que constrói inteligência sobre o consumidor maduro e a economia prateada. Palestrante, mentor e conselheiro [email protected]

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