O Brasil tem hoje cerca de 29 milhões de mulheres que estão entre climatério e menopausa, o que totaliza 27,9% da população feminina brasileira, segundo o IBGE.
A menopausa é o fim dos ciclos menstruais e vida reprodutiva da mulher, e representa um marco importante do envelhecimento feminino. Na menopausa, os ovários param de funcionar e há queda dos níveis de estrogênio, um importante hormônio sexual feminino que atua na regulação de todo metabolismo do corpo.
O estrogênio possui receptores em todos os órgãos e, portanto, desempenha um papel nas características anatômicas, fisiológicas e até emocionais do organismo. Ele estimula o crescimento da massa óssea e muscular, atua como um antioxidante, oferece proteção ao coração e ao cérebro, e desempenha um papel importante na vitalidade emocional e sexual.
Isso significa que, com a acentuada diminuição nos níveis de estrogênio até a completa ausência desse hormônio na menopausa, resultará em desequilíbrios nos vários sistemas do corpo até que um novo equilíbrio seja alcançado.
O cérebro, ainda antes da menopausa, o estrogênio funciona reparando danos nos neurônios e ativando ou inibindo enzimas responsáveis pela síntese neuronal. Quando falta estrogênio, então, há reflexo na cognição, já que muitas áreas do cérebro, como hipotálamo, amígdala, hipocampo e lobo frontal tem muitos receptores estrogênicos e sofrem influência direta deste hormônio “Essas alterações ocorrem no perfil da cognição, no humor, na memória e na qualidade do sono, e tendem a facilitar a ocorrência de distúrbios neurodegenerativos, devido às perdas funcionais pela ausência do estrogênio. Alguns neurotransmissores importantes também têm sua atuação alterada, como a serotonina, a noradrenalina, a acetilcolina e a dopamina, inclusive, essas mudanças nos níveis de neurotransmissores no hipotálamo são responsáveis pelos sintomas vasomotores, os temidos calorões (ou fogachos), com sudorese, palpitações, angústia e ansiedade”, fala Livia Ciacci, neurocientista.
O que observar durante a menopausa?
Na menopausa, com a falência ovariana, se inicia um novo ciclo com condições fisiológicas diferentes e importantes. A menopausa não é uma doença, mas exige atenção aos sinais e sintomas com foco no controle e avaliação, para garantir a qualidade de vida durante o envelhecimento feminino.
“É essencial que a mulher nessa fase mantenha um acompanhamento médico, nutricional e de saúde mental contínuo, pois ela precisará recriar a sua identidade e respeitar as necessidades do corpo, até entender como será o novo equilíbrio. Nesse processo, é importante não ignorar os menores sinais, desde uma dificuldade em pensar com clareza ou lembrar palavras, até mudanças no ciclo de sono. Se eu puder dar um conselho para quem se aproxima da menopausa, nunca deixe de praticar atividades físicas e de cuidar da alimentação, são hábitos que facilitarão a adaptação neste momento”, explicou.
A estimulação cognitiva na terceira idade
Sabemos que o estilo de vida, comportamento e estímulos cognitivos influenciam na química cerebral, com potencial para serem fortes aliados na manutenção da qualidade de vida e desempenho profissional. Durante a menopausa, os maiores ganhos do treino cognitivo envolvem o desenvolvimento de uma reserva cognitiva capaz de compensar possíveis danos, além da criação consciente de estratégias mentais para manter a flexibilidade mental necessária para se adaptar a novos cenários.
“Atividades intelectuais variadas e com grau de desafio crescente ainda aumentam a capacidade da pessoa entender o próprio processo de aprendizagem, uma grande vantagem para facilitar colocar em prática as mudanças de hábitos necessários para um estilo de vida mais saudável, durante e após a menopausa”, detalhou.
Esquecimentos e lapsos de memória na menopausa
Ainda segundo a especialista do SUPERA – Ginástica para o cérbero, analisando a literatura científica, as alterações mais frequentes estão nas memórias episódica (memória das situações e histórias de vida), visual e verbal; na fluência verbal; atenção e velocidade de processamento das informações.
“Esses lapsos ocorrem tanto pela ausência fisiológica dos hormônios no cérebro quanto pelos próprios efeitos dessa ausência no corpo. Ou seja, assim como as mudanças nos níveis de neurotransmissores afetam o hipocampo, área de processamento das memórias, também afetam o sono e o humor, e o sono e o humor piores afetam a capacidade de se concentrar e ter atenção, que também impactam as memórias. Por isso, quanto antes a mulher reconhecer esse momento e se cuidar buscando estratégias que funcionem para ela, melhor será a qualidade de vida”, concluiu.