O melhor turismo, o melhor lugar, a melhor experiência, só é possível com a natureza

Por Luiz Del Vigna

Precisamos de um turismo que valorize o
ambiente natural além do consumo imediato

Diante de tantas catástrofes naturais, inclusive morte de pessoas, somos obrigados a uma reflexão sincera e transformadora sobre o turismo e o modo de vida que almejamos realmente desenvolver em nossos territórios.
Na época da pandemia, houve forte união e troca de informações no setor. Trabalhamos na Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura – Abeta, com a perspectiva de que a pandemia passaria e que chegaríamos a um lugar onde os benefícios e qualidades do turismo de natureza fossem mais reconhecidos e vividos.

Havia a impressão de que a pandemia seria um recado da Mãe Natureza e que ao final daquilo tudo mudaríamos nossa forma de ver e viver o mundo. Que estávamos vivendo quase uma praga divina. Em 2023 descobrimos que a parada é outra. O problema do turismo de massa com impactos negativos já está de volta e vem se consolidando na Europa. Veneza vai cobrar taxas de visitação. Casas de aluguel por temporada estão elevando os preços e tornando mais raras as opções de moradia nas cidades, que também parecer deixar de ser cidades reais para serem mais parques turísticos. Queremos isso? Como resolver de maneira inteligente e sustentável esses desafios?
Por aqui, não tem sido diferente, e o turismo doméstico, sobretudo o de Natureza, tem experimentado um crescimento constante e expressivo. Todavia esse crescimento não pode ser desordenado, sem planejamento. Turismo de Natureza demanda responsabilidade, segurança e sustentabilidade.
Pelo interior do Brasil, atrativos naturais que eram frequentados por 20, 40 visitantes no pré-pandemia, hoje recebem 200, 300 pessoas que deixam lixo, aumentam o número de acidentes, alguns fatais. Para piorar, as cidades brasileiras, em sua maioria, não oferecem serviços decentes de saneamento básico. Quando oferecem.

O turismo de volta à natureza não está acontecendo da maneira que gostaríamos.
Nesse contexto não podemos esquecer que o Havai, paraíso turístico, foi incendiado. Um vilarejo na Líbia foi inundado, 20 mil mortes. No Rio Grande do Sul, ciclones constantes. Tudo isso é questão climática e o turismo faz parte dessa história, porque é feito de pessoas que desenvolvem políticas púbicas, empresas que definem e operam serviços e por viajantes que escolhem seu consumo e podem gerenciar seu impacto no ambiente. Usamos maciçamente os transportes aéreos, mas podemos e devemos diversificar os meios de se transportar. Se nos falta tempo para viajar de maneira mais lenta e prazerosa, que tal repensar como estamos usando o nosso tempo para viver? Como disse o Aílton Krenak, “precisamos repensar nossa forma de estar no mundo”.
O valor agora não é apenas de produto. O valor é a Natureza.

Luiz Del Vigna é diretor executivo da Abeta (Associação Brasileira de Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura) www.abeta.com.br

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