Neste artigo quero falar um pouquinho sobre o Lipedema, que virou a “doença da moda” por conta das famosas como a modelo Yasmin Brunet ou a cantora norte-americana Kelly Clarkson se declararem portadoras.
De maneira geral, a doença descrita pela primeira vez em 1940. É uma condição crônica e progressiva, que produz um acúmulo anormal de gordura nos braços ou pernas e que pode causar desconforto, dor, sensibilidade, aparecimento de manchas, afetando o bem-estar e autoestima feminina. De cada dez mulheres, uma tem a doença, de acordo com a ABL (Associação Brasileira de Lipedema).
Eu, particularmente, entrei em contato formal com a doença há seis anos quando ninguém tinha ouvido falar deste nome na mídia. É que me descobri portadora por acaso. Costumo dizer que nós, mulheres que descobrimos o Lipedema, somos peregrinas, ou seja, fazemos uma verdadeira peregrinação em busca de um diagnóstico, que pode levar anos. E quem tem Lipedema precisa de conforto e respostas mais rápidas
Nós, portadoras, nos sentimos diferentes e perdidas. É um alívio ter o diagnóstico exatamente por termos peregrinado por tanto tempo… De repente alguém nos dá um nome e um norte para tudo aquilo que, mesmo sendo uma doença crônica, podemos agora entender, controlar e tratar de forma singular.
Hoje entendo que eu tinha um nível muito primário de Lipedema nas pernas; esteticamente, minhas canelas foram ficando muito grossas, sendo que minhas canelas e minhas coxas se tornaram uma coisa só. Incomodava muito. Provocava complexo. Na adolescência eu me sentia um pouco diferente, com um pouco de sobrepeso, nada exagerado, somado a esta gordura “localizada”.
Para ter uma ideia, eu passei a usar shorts, saias e sandálias que fecham no tornozelo, a partir dos 30 anos de idade. Eu sei que são coisas simples, porém ao longo da vida podem trazer cisões, e fragilidades porque a gente sente a autoestima ferida e nossa beleza questionada.
Eu juntei dinheiro na época (o dinheiro de um carro) para fazer uma lipoaspiração na canela, coisa que eu nem sabia que existia; então, o universo foi generoso e me indicaram um cirurgião bem confiável, que me esclareceu: “Você tem uma doença chamada Lipedema”.
E eu pensei… “como assim?” E fui tomando contato com aquele universo; afinal este médico era o único do Brasil que operava Lipedema na época. Confesso que senti um mix de susto com alegria, esperança e expectativa. Saber que aquilo não era algo da minha cabeça trouxe uma sensação de alívio muito grande. Foi uma verdadeira gentileza do universo. Entendo perfeitamente o que minhas pacientes descrevem.
Apenas cinco, seis anos atrás não se falava em tratamento conservador como existe agora; em bem pouco tempo, com a luta da classe médica, a doença veio se tornando cada vez mais conhecida. Isso é muito bom, pois agora nós temos um nome, temos uma CID (Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) e tratamentos múltiplos, além de visibilidade, o que é fundamental.
Porque até então, a oferta primária era a cirurgia. Hoje em dia talvez o meu caso nem fosse cirúrgico, pois meu Lipedema era muito inicial, um grau primário; com o tratamento conservador eu provavelmente teria bons resultados. E precisamos falar disso mais e mais!
A partir da minha cirurgia virei uma chave dentro de mim no quesito autoestima e passei a controlar mais o peso, investindo em cuidados, atividade física e uma alimentação mais equilibrada, pois entendi que o sobrepeso poderia agravar a doença.
Hoje se sabe que o Lipedema é uma doença com componentes genéticos, mas que tende a surgir ou se agravar a partir de alterações hormonais, o que não era entendido antes. A enfermidade pode ser dispara a partir de um evento, uma oscilação hormonal importante como gestação, entrada da adolescência ou até mesmo na menopausa.
Talvez o Lipedema tenha mudado minha vida de uma forma muito mais profunda pois me tornei psicóloga comportamental, especializada no universo feminino e já ministrei muitas palestras específicas sobre o assunto. O controle do Lipedema é possível e só quero que as mulheres não se sintam sozinhas nesta empreitada.
Texto de: Elisangela Niná – psicóloga comportamental, especialista em autoestima, independência emocional e desenvolvimento pessoal.
@eli.pedema