A necessidade de mudança para uma longevidade mais saudável se mostra cada dia maior. Os avanços da medicina fazem com que as pessoas vivam mais tempo, mas isso não significa que a qualidade de vida dos futuros idosos será melhor que a dos idosos atuais. Segundo a pesquisa Kids and Old Age, realizada pela Economist Intelligence Unit (EIU) em parceria com a Merck Consumer Health, os jovens de hoje terão menos saúde quando atingirem 65 anos em comparação aos adultos que hoje têm esta idade.
O estudo foi apresentado recentemente na sede da Merck, em Darmstadt, na Alemanha, no evento Global Consumer Health Debate, que teve como tema “100 anos com saúde: os jovens estão preparados?”. O fórum, que reuniu especialistas da ONU, UNICEF, UNAIDS, Federação Mundial da Obesidade e McKinsey, além da Presidente da Inmed Brasil, Joyce Capelli, abordou questões como as ameaças mais urgentes à saúde de nossos filhos a longo prazo, o que pode ser feito dentro e fora da escola e como dividir a responsabilidade entre escola, família e comunidade.
A pesquisa, que ouviu especialistas, educadores e pais de todo o mundo, trouxe alguns dados preocupantes. Segundo o relatório, os problemas relacionados ao estilo de vida atual dos jovens já estão causando prejuízos em sua saúde e poderão contribuir para o surgimento de doenças crônicas na velhice. De maneira geral, 32% dos educadores ouvidos pela EIU afirmam que muitas crianças já sofrem de uma doença crônica e cerca de dois terços desses educadores dizem que as crianças fazem “escolhas nutricionais precárias” – no Brasil, essa proporção aumenta para três quartos dos educadores, em contraste com pouco mais de 50% na Alemanha.
O estudo mostra também que as escolas se concentram nos principais problemas detectados, como falta de exercício físico, mas ignoram temas como nutrição e cuidados com a saúde mental dos estudantes. Enquanto o esporte está no topo da lista de prioridades do currículo escolar, apenas cerca de um terço (36%) dos pais e educadores ouvidos dizem que as escolas promovem práticas mais amplas de bem-estar, como evitar o estresse e dormir o suficiente para uma vida saudável.
Outro fator complicador é a pouca evidência de que os programas educacionais escolares estejam conseguindo deter os crescentes níveis de obesidade e distúrbios mentais dos jovens. E os problemas não se restringem à sala de aula: a pesquisa mostra que eles começam e se desenvolvem em casa, com as crianças combinando estilo de vida sedentário com dietas pobres. As comunidades, por sua vez, fornecem centros esportivos e alternativas para melhorar os hábitos dos jovens, mas pouco fazem para encorajar essa mudança. No Brasil, onde cerca de um terço (34%) das crianças estão acima do peso, a obesidade pode coincidir com desnutrição, pois os jovens – especialmente os pertencentes a famílias mais pobres – consomem alimentos baratos, pesados e não nutritivos ao invés de produtos mais saudáveis e frescos.
Por fim, a pesquisa aponta uma série de mudanças que podem ajudar a melhorar a saúde das crianças em sua fase adulta. O primeiro passo, e mais essencial, é uma maior integração e cooperação entre sistemas de saúde, escolas, pais e políticas públicas, tanto a nível nacional como regional. Entre as mudanças apontadas no relatório, estão maior conscientização entre crianças, famílias, comunidades e professores acerca do estilo de vida dos jovens; maior ênfase em questões amplas de bem-estar, como nutrição, exercícios e higiene; e promoção de boas práticas de saúde fora do currículo escolar formal.